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DIAGNÓSTICO METEOROLÓGICO

Estudo analisa padrões de chuvas em Mato Grosso nas últimas três décadas

Um estudo realizado pela Embrapa na região médio-norte de Mato Grosso analisou dados pluviométricos das últimas 34 safras e constatou anomalias de chuva

Colonizadores pioneiros da região médio-norte de Mato Grosso afirmam que, no passado, as chuvas ocorriam mais cedo e com maior intensidade. Um estudo realizado pela Embrapa examinou dados pluviométricos das últimas 34 safras para investigar se houve alguma alteração nas tendências de chuva no estado. Os resultados revelaram anomalias de chuva ao longo desse período, com os últimos 17 anos apresentando maior volume de precipitação em comparação aos 17 anos anteriores.

Coordenado pelo pesquisador da Embrapa Agrossilvipastoril (MT), Jorge Lulu, o estudo analisou dados coletados em dez estações meteorológicas do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) distribuídas em diferentes regiões do estado. O período abrangeu de 1988 a 2022, e as informações foram analisadas mês a mês para calcular o Índice de Anomalia de Chuva (IAC).

Esse índice é expresso em uma escala numérica, na qual zero representa um período com padrões meteorológicos normais. Valores positivos indicam períodos mais chuvosos do que o normal, sendo que um valor igual ou maior que quatro representa uma fase de precipitações extremamente intensas. Por outro lado, números negativos indicam períodos mais secos do que o esperado, e um valor igual ou menor que -4 representa um período extremamente seco.

Um dos primeiros resultados obtidos confirmou a informação já mencionada pelo Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) de que, embora ocorram chuvas em setembro, as precipitações consistentes só começam a partir de outubro, o que marca o mês de abertura da janela de semeadura da soja no estado.

Dos 34 anos agrícolas analisados, em 19 ocasiões, os meses de setembro apresentaram precipitações abaixo da média esperada, com IAC negativo, enquanto em 15 ocasiões foram mais chuvosos, com IAC positivo. Apenas em quatro anos, setembro foi considerado muito chuvoso, e em duas ocasiões, extremamente chuvoso. Por outro lado, em oito anos foi considerado muito seco, e em um ano, extremamente seco.

“Esse resultado mostra que o Zarc é um bom orientador para os produtores, pois ao iniciar a janela de plantio em outubro, reduz-se os riscos de perdas por falta de chuva, que são esparsas e em menor volume no mês de setembro no estado”, explica Jorge Lulu.

Para verificar se há tendência de redução da quantidade de chuva em todo o ano agrícola, os pesquisadores calcularam médias anuais dos Índices de Anomalia de Chuvas. O resultado mostrou que dos 34 anos avaliados, houve 16 anos com IAC médio positivo e 18 anos com IAC médio negativo em Mato Grosso, ou seja, foram mais anos secos do que chuvosos.

Porém, ao dividir a série histórica em duas metades, sendo uma de 1988 a 2004 e outra de 2005 a 2021, verifica-se que a segunda metade teve mais anos chuvosos do que a primeira.

O resultado reflete um comportamento verificado em todos os meses de outubro a abril, nos quais os últimos 17 anos foram mais chuvosos do que os 17 anos anteriores. Já para os meses mais secos, de maio a setembro, o IAC manteve o padrão em todos os 34 anos.

Foto: Gabriel Faria/Embrapa

O pesquisador explica que para uma análise climatológica são necessários ao, menos 30 anos, para se identificar tendências de alterações. Ao contemplar um intervalo de 34 anos, esse trabalho não indica que as chuvas em Mato Grosso estão atrasando ou mesmo se consolidando mais cedo. A confirmação da ocorrência de anomalias, por sua vez, reforça a necessidade de se seguir as recomendações de janela de plantio preconizadas pelo Zarc.

“É uma forma de o produtor ver não só as datas de chuvas, mas também observar como os desvios em relação à média podem ocorrer ao longo do tempo. Com isso, o produtor pode ficar mais alerta pois as anomalias acontecem e, por isso, é importante ele estar atento às janelas do zoneamento para reduzir os riscos”, alerta Jorge Lulu.

Como essa pesquisa analisou somente os dados de precipitação que ocorreram, sem fazer uma análise de fenômenos climatológicos e de mudanças na paisagem, não está no escopo do trabalho entender o porquê da ocorrência das anomalias em cada ano. Ainda assim, ele traz avanços para o conhecimento, ao confirmar que o Índice de Anomalia de Chuvas é um bom indicador de análise e que seus resultados são compatíveis com os mapas de anomalias de precipitação que são gerados pelo Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (CPTEC/Inpe).

De acordo com o pesquisador, o trabalho pode ter desdobramentos futuros com incremento de informações sobre o déficit hídrico na série histórica. Para isso, devem ser levadas em consideração não só a precipitação, mas também as temperaturas diárias.

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