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Tempo

Mitigar a mudança climática é um desafio geopolítico

É o que afirmam especialistas em meio ambiente

A década em que estamos agora é fundamental para enfrentar a emergência climática global e, além disso, os entraves situam-se mais no campo geopolítico do que no tecnológico. É o que afirmaram os participantes de um painel sobre transição energética na conferência anual do Centro de Pesquisa para Inovação em Gases de Efeito Estufa (RCGI). A saber, o evento foi realizado no fim de outubro, em São Paulo.

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“A questão é muito mais política. Ou melhor, geopolítica, do que tecnológica”, afirmou, nesse sentido, o pesquisador Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF-USP). Ele é autor-líder de um capítulo do mais recente relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).

“A guerra na Ucrânia mudou totalmente a questão energética e, além disso, há diversos novos governos de extrema direita, como na Itália, na Suécia e assim por diante, com uma nova perspectiva política que afetará tudo, incluindo os resultados da COP 27 [27ª Conferência da Organização das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas], que começará em algumas semanas no Egito”, conta o pesquisador.

Emissões de globais de gases

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Foto: Pixabay

De acordo com o pesquisador, a ciência já conta com a tecnologia necessária para reduzir à metade as emissões globais de gases de efeito estufa até 2030. O desafio tecnológico ocorrerá depois, para diminuir além disso. “Não temos muito mais tempo; temos esta década em particular para mudar. Se não mudarmos até 2030, provavelmente diremos adeus a tudo o que estamos conversando aqui”, ressaltou Artaxo.

“Se não agirmos nos próximos cinco, sete ou dez anos, o jogo acaba” — Paulo Artaxo

O vice-presidente de Engenharia de Tecnologia da companhia anglo-neerlandesa Shell, Ajay Mehta, que também participou do painel, concordou. “Esta é uma situação insustentável. Se não agirmos nos próximos cinco, sete ou dez anos, o jogo acaba. Todos nós temos um papel a desempenhar.”

Ao lado da FAPESP, a Shell financia o RCGI – um Centro de Pesquisa em Engenharia sediado na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP). Com investimentos de R$ 63 milhões, o RCGI busca tornar a ciência brasileira referência internacional de apoio às estratégias de setores público e privado no combate às mudanças climáticas.

Segundo Artaxo, em termos geopolíticos, o mundo encontra-se num momento muito mais complicado agora do que na COP anterior, do ano passado, pois as tensões entre Estados Unidos, China e Rússia aumentaram, assim como as tensões entre o mundo desenvolvido e os países em desenvolvimento.

Impactos na mudança climática

Foto: Pixabay

O Brasil, no entanto, apresenta, na opinião dele, uma vantagem estratégica, pois pode cortar 44% das suas emissões de forma rápida e barata, simplesmente evitando queimadas e desmatamentos na Amazônia. “Além disso, nenhum outro país tem potencial tão grande em energia eólica e solar. O Brasil tem de explorar essa vantagem estratégica para minimizar os problemas relacionados à vulnerabilidade [à mudança climática].”

Os participantes ressaltaram a importância da manutenção das florestas e dos sumidouros naturais de carbono, além do reflorestamento. “São Paulo é a prova de que dá para conciliar a produção crescente de alimentos e o reflorestamento de áreas degradadas”, comentou o diretor-geral e científico do RCGI, Julio Meneghini.

O diretor geral de P&D e Inovação da Shell, Oliver Wanbersie, afirmou que um desafio no ambiente das empresas privadas é o de refletir sobre a grande competitividade entre as companhias e a necessidade de proteger as inovações com patentes, por exemplo. “Precisamos repensar o que devemos ou não compartilhar diante da urgência das mudanças climáticas para caminharmos juntos e mais rápido”, conta. “Há uma necessidade de colaboração e de flexibilidade. Precisamos produzir mais energia, mas com uma pegada muito menor, complementa o diretor.

Os painelistas acreditam que haverá ainda décadas de tensão por causa da crise climática, mas que será uma missão possível, embora turbulenta, enfrentar o aquecimento global. Não há nenhuma bala de prata, ressaltaram.   “Concordo que os biocombustíveis não vão ser a única solução. Devem ser uma pequena parte dela”, disse Meneghini.

Integração do hidrogênio

Foto: reprodução

“No entanto, é possível integrar isso com a produção de hidrogênio, como estaremos fazendo em pequena escala com financiamento da Shell, e com a produção de combustível sustentável para a aviação.” O hidrogênio é, nesse sentido, visto por muitos como um combustível estratégico para o futuro por não emitir poluentes quando utilizado.

Os especialistas também mencionaram que ainda há poucos incentivos para os projetos de captura e armazenamento de carbono (CCS, na sigla em inglês). “Por que há apenas 40 projetos de CCS no mundo? Por que não tem nenhum projeto desse no Brasil? O custo ainda é muito alto”, disse Ajay Mehta.

Dessa forma, a captura, o armazenamento e o uso do dióxido de carbono são percebidos como ferramentas para mitigar a mudança climática. Um projeto em desenvolvimento pelo RCGI prevê o armazenamento em cavernas salinas em alto-mar do gás extraído junto com o petróleo em poços offshore. Esse gás é considerado refugo e normalmente é liberado nas plataformas petrolíferas.

O painel sobre transição energética ocorreu no Centro de Difusão Internacional da USP, durante o Energy Transition Research & Innovation (ETRI 2022), a primeira conferência anual do RCGI a ser realizada presencialmente após a emergência da COVID-19.

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