CRISE CLIMÁTICA

Planeta ferve: 2024 bate recorde de temperatura global

Aquecimento global ultrapassa 1,5ºC pela primeira vez, intensificando alarmes sobre mudanças climáticas e seus impactos

onda de calor
Foto: Pixabay

Em 2024, o planeta Terra registrou o ano mais quente desde 1850, conforme informaram hoje (10) diversas agências de monitoramento meteorológico. Com um aumento significativo nas temperaturas, o planeta superou um importante limite, alertam os cientistas.

A temperatura média global em 2024 superou o recorde anterior, registrado em 2023, e ultrapassou o limite de aquecimento de 1,5ºC desde o fim do século 19, estabelecido pelo Acordo de Paris de 2015. Dados do Serviço de Mudança Climática Copernicus (UE), do Met Office (Reino Unido) e da agência meteorológica do Japão confirmam o aquecimento, calculado entre 1,53ºC e 1,6ºC acima da média pré-industrial.

“O limiar de 1,5º C não é apenas um número, é um sinal de alerta. Superá-lo mesmo por um único ano mostra o quão perigosamente próximos estamos de exceder os limites estabelecidos pelo Acordo de Paris”, disse Victor Gensini, cientista climático da Universidade do Norte de Illinois (EUA).

Nos Estados Unidos, equipes de monitoramento como a Nasa e a NOAA devem divulgar seus dados em breve, mas cientistas já indicam que será confirmado um recorde de calor em 2024. Apesar de diferenças metodológicas, todas as análises apontam para um aumento inédito nas temperaturas globais.

Causas e impactos

O aumento se deve principalmente à queima de combustíveis fósseis, que intensifica o acúmulo de gases de efeito estufa na atmosfera, segundo Samantha Burgess, do Copernicus. Fatores como o fenômeno El Niño contribuíram para o aquecimento, embora com menor impacto.

Além disso, o salto nas temperaturas em 2024 foi incomum: o aquecimento em relação a 2023 foi de 0,125ºC, um aumento muito superior ao registrado em recordes anteriores, geralmente superados por centésimos de grau. Os cientistas destacam que os últimos 10 anos foram os mais quentes em 125 mil anos.

Recorde e alerta climático

O dia 10 de julho foi o mais quente já registrado na história, com uma média global de 17,16ºC, segundo o Copernicus. Esses recordes acionaram “sirenes de alerta” entre especialistas. Jennifer Francis, do Woodwell Climate Research Center, alertou para o risco de insensibilidade pública diante da urgência climática.

Os impactos já são visíveis: em 2024, desastres climáticos geraram prejuízos globais de US$ 140 bilhões, com a América do Norte sendo particularmente afetada. Kathy Jacobs, da Universidade do Arizona, ressalta que o aumento da temperatura global agrava os danos econômicos, à saúde e aos ecossistemas.

Limites críticos

O aquecimento de 1,5ºC é considerado um limite crítico para evitar catástrofes climáticas. Apesar de os cientistas reforçarem que a meta de 1,5ºC se refere a médias de longo prazo (20 anos), ultrapassar esse valor mesmo temporariamente é motivo de preocupação.

Um estudo da ONU de 2018 apontou que manter o aquecimento abaixo desse patamar pode evitar a extinção de recifes de corais, a perda massiva de gelo na Antártida e o sofrimento de milhões de pessoas.

Cenário futuro

Embora 2025 possa ser menos quente devido à influência do fenômeno La Niña, cientistas alertam que os oceanos estão aquecendo mais rapidamente, o que pode agravar os desafios climáticos. Carlo Buontempo, diretor do Copernicus, destacou que estamos enfrentando condições climáticas para as quais a sociedade não está preparada.

Michael Mann, da Universidade da Pensilvânia, concluiu: “Agora estamos colhendo o que plantamos”.