A primavera 2023 no Brasil, até agora, teve toda a assinatura do fenômeno El Niño que está em curso, com enchentes e catástrofes no Sul e estiagem e recordes do calor no Brasil central e nas regiões Norte e Nordeste. Seja pelo excesso ou pela falta de chuva, essas condições atrasaram o plantio da safra de verão 2023/24.
Um dos únicos estados que apresentam a mesma velocidade da semeadura da soja em relação ao mesmo período do ano passado é o Paraná que, na comparação com os outros dois estados do Sul, não foi acometido com tantas anomalias de precipitação.
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“Apenas o sul do Paraná teve uma maior quantidade de transtornos decorrentes dos temporais. Importantes áreas produtoras, como o oeste do estado, tiveram uma umidade mais equilibrada ao longo dos últimos meses”, avalia o meteorologista do Canal Rural, Arthur Miller.
Já em Santa Catarina, o excesso de chuva superou em mais de três vezes a média climatológica das cidades, com mais de 500 milímetros. Há cidades que enfrentaram sete enchentes seguidas praticamente, como é o caso de Rio do Sul, na faixa leste do estado.
Dados do Epagri/Ciram mostram que o tempo em Santa Catarina só ficou completamente seco neste ano em 48 dias. Os outros 284 foram de precipitação.
Padrão de chuvas já começou a mudar em novembro
Nos últimos dias de novembro, esse padrão começou a mudar e já registramos chuvas significativas em áreas muito secas em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Na região Sul, a chuva não cessou completamente, mas as janelas de tempo seco estão mais amplas e os volumes de chuva, menores, quando comparados com o que tem acontecido por lá desde julho.
Se não fosse o solo completamente encharcado, a chance para transtornos seria menor com as condições previstas para dezembro. “A partir de agora, ainda vamos ter chuva acima da média, mas com desvios bem menores quando comparados com o que aconteceu nos últimos três meses”, diz Müller.
Por outro lado, regiões que estavam com o tempo muito seco podem encontrar problemas com o excesso de umidade, como é o caso de áreas do sul de Minas Gerais, parte de São Paulo e Rio de Janeiro.
Nessas áreas, o volume previsto de mais de 350 milímetros recupera a umidade do solo, mas pode trazer riscos para deslizamentos de terra e encostas, além de potencializar perdas para os produtores de café. Afinal, os temporais nunca vêm sozinhos, podendo ser acompanhados por granizo e rajadas de vento, como foi o caso da capital de Mato Grosso do Sul, Campo Grande, que recebeu quase 40 milímetros de chuva nas últimas 24 horas, mas o volume veio acompanhado de ventania.
No panorama geral de distribuição de umidade, as projeções estão bem mais otimistas, inclusive para as regiões Norte e Nordeste. O grande problema é que o déficit hídrico acumulado é muito grande.
Segundo Müller, para o oeste da Bahia, grande fronteira agrícola do Matopiba, as estimativas até que são boas com volumes de 200 milímetros. Já para o estado com a umidade do solo mais baixa, o Piauí, o volume ainda não deve passar de 80 milímetros em 30 dias, trazendo muitos desafios para o produtor da região.
No Norte, destaque fica para os altos volumes de chuva previstos para Rondônia, Acre e Amazonas, que, embora ainda fiquem abaixo da média, vão conseguir amenizar apenas um pouco as secas históricas que os rios da região enfrentaram este ano.
Temperaturas
Em relação à temperatura, dezembro ainda será um mês de muito calor. Vale a pena chamar a atenção dos produtores do norte de Mato Grosso do Sul e sul de Mato Grosso. Nessas áreas, a média das temperaturas máximas pode passar de 40 °C, o que traz o alerta para muitos produtores.
Há diversos relatos de necessidade de replantio e outros produtores tiveram que colher antes uma soja sem qualidade e com baixa rentabilidade. Um produtor da cidade de Ipiranga do Norte precisou antecipar a colheita de soja um mês antes do prazo previsto, já que a forte seca na região alterou o ciclo da lavoura e forçou o produtor a colher os 250 hectares antecipadamente. A produtividade esperada, que antes era de 80 sacas por hectare, passou para 30 sacas no total.
“Faltou chuva para o enchimento de grãos, que acabaram não enchendo. Ficaram miúdos e sem peso. Consequentemente, com produtividade mais baixa”, diz Valcir Batista.
A temperatura muito alta também não ajudou em nada. “Não há planta que resista e qualquer umidade do solo evapora”, diz o meteorologista do Canal Rural.