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Tempo

Surgimento de La Niña pode influenciar safra ainda em 2020; entenda

Este cenário favorece de imediato a safra norte-americana e traz preocupações severas para Brasil

Um novo episódio de La Niña vai influenciar todo o clima global no segundo semestre deste ano. A informação é do Centro de Previsão do Clima, que faz parte agência federal de meteorologia dos Estados Unidos, o NOAA.

Neste momento, o verão em todo o hemisfério Sul é de neutralidade climática – ou seja, sem El Niño nem La Niña. Existe ainda um viés positivo das temperaturas na superfície do oceano Pacífico Equatorial, como mostram as figuras que representam a previsão de temperatura da superfície do mar de fevereiro a maio. De acordo com os meteorologistas, as projeções feitas para o trimestre junho, julho e agosto já indicam uma enorme área de resfriamento em todo o oceano Pacífico Equatorial, caracterizando o fenômeno La Niña. Essa informação já deixa cenários previsíveis tanto para a safra americana, quanto para Brasil, Austrália e até mesmo Ásia. 

Em azul, é possível ver o resfriamento do oceano pacífico ao longo dos meses

A previsibilidade de La Niña é bem mais assertiva do que de um El Niño, dizem os especialistas. O processo de resfriamento é bem mais consistente do que o aquecimento que acontece com uma maior inércia e não chega a ser tão abrangente, caracterizando El Niños clássicos – com grande parte do oceano aquecido – e El Niños Modokis, quando apenas um trecho do Pacífico apresenta temperaturas acima do normal.

“El Niños tendem a ter um diagnóstico mais demorado e com áreas de aquecimento mais concentradas. O que vemos no segundo semestre é 90% de probabilidade para um resfriamento do oceano e de 70% a 80% da configuração total de um La Niña. Portanto, os produtores já devem se preparar 100% para os seus efeitos”, afirma Paulo Etchichury, climatologista da Somar.

Esse cenário favorece de imediato a safra americana e traz preocupações severas para a região Sul do Brasil. Embora o efeito do La Niña seja falta de chuva em ambos os locais, os americanos vêem o fenômeno como uma boa notícia e os produtores do Sul do Brasil, como um péssimo cenário.  O plantio da safra americana no ano passado aconteceu sob os efeitos do El Niño, o que trouxe chuva acima da média , provocando alagamentos nas planícies e atrasou todo o calendário agrícola. Para este ano, acontece o contrário. 

O tempo mais firme deve favorecer a instalação da safra americana, já que o excesso de chuva não será um problema. As complicações podem vir na fase de floração e enchimento de grãos no Meio-Oeste americano, entre julho e agosto, quando o La Niña traz riscos para estiagens regionalizadas. Os produtores americanos sofrem menos com esse tipo de problema, por conta da condição geográfica dos campos mais planos e da captação de umidade no solo. Enquanto o solo americano tem a capacidade de armazenar de 300 a 700 milímetros de chuva, no Rio Grande do Sul, o relevo diminui esaa capacidade de armazenamento para 100-140 milímetros de água, aproximadamente. Os desafios aqui são maiores, sem dúvida, em um cenário de La Niña.

Para o Rio Grande do Sul já há um alerta. Enquanto o El Niño é sinônimo de safra cheia por conta das chuvas volumosas, o La Niña é o pior cenário para os produtores gaúchos. A safra 2019/2020 acontece sob neutralidade climática, o que, por si só, já trouxe irregularidades da distribuição do volume de chuva principalmente para o Rio Grande do Sul. 

Com a confirmação de um La Niña, o risco de estiagens aumenta para a próxima safra de verão 2020/2021 no Sul do Brasil. Os problemas que hoje são vistos em parte do Rio Grande do Sul, mais na porção sul do estado que apresentou quebras significativas nas lavouras de milho, podem ficar mais generalizados no próximo ciclo inclusive para Santa Catarina, Paraná e no nosso país vizinho: a Argentina. Por outro lado, o resfriamento das águas do oceano Pacífico, mesmo sem caracterizar La Niña ainda, favorece as culturas de inverno este ano no Rio Grande do Sul , já que os riscos de excesso de chuva na hora da colheita do trigo, por exemplo, diminuem drasticamente. A fruticultura também será beneficiada com as temperaturas mais baixas que mantém a sacarose mais elevada nos frutos. 

Preocupação no sul e expectativa positiva no Nordeste

O cenário climático deste ano no Brasil está sendo comparado ao de 2007, quando no primeiro semestre tínhamos também uma neutralidade no oceano Pacífico com viés positivo e no segundo semestre, uma configuração de viés negativo que culminou em uma transição para o La Niña. Com essa base, também é possível  comparar a safra de 2021 com desempenhos semelhantes à de 2008. É importante desde já saber que, se o último ano foi de dificuldades para os gaúchos, o próximo pode ser ainda pior e de uma forma mais generalizada. Já para boa parte do Nordeste, incluindo o Matopiba, a próxima safra poderá ser bem promissora.

Para a Ásia, o cenário também é positivo em relação à safra de cana-de-açúcar, por exemplo, porque o La Niña traz mais chuva para o continente. As projeções também favorecem a Austrália, que registrou problemas severos por conta de incêndios de proporções catastróficas e, neste ano, deve receber mais umidade para amenizar a situação das queimadas.

Segundo Paulo Etchichury, definir sorte ou azar nas safras vai um pouco além do clima e dos ciclos interanuais. É algo que está mais  ligado ao quanto se está preparado ou não para os riscos e atento às oportunidades. “O clima pode ser estabelecido com muita antecedência. Como usamos esta informação é que faz toda a diferença e pode refletir na produtividade das lavouras em qualquer local do planeta”, diz o climatologista. O La Niña, assim como o El Niño, não consegue agradar todo mundo.

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