O verão começou no dia 22 de dezembro, à 1h19, no horário de Brasília. Diferentemente do que ocorreu no último ano, a estação não terá influência de fenômenos como o El Niño. Espera-se neutralidade climática, embora isto também não signifique chuva e temperatura dentro da média.
O verão de 2020 será mais chuvoso e menos quente do que o anterior no Sudeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste. Já a região Sul, sobretudo o Rio Grande do Sul, passará por uma estação mais seca e quente do que o normal. “Vamos enxergar muita variabilidade, ou seja, períodos mais úmidos intercalados com dias de tempo seco”, afirma Celso Oliveira, meteorologista da Somar.
Do ponto de vista agrícola, a variação da distribuição a chuva é bem-vinda para a maior parte das áreas produtoras. Por outro lado, levando-se em conta a situação dos reservatórios, chuva forte em janeiro sempre ajuda a elevar os níveis de água. Mas a oscilação entre períodos úmidos e períodos secos faz com que esse aumento aconteça de uma forma mais lenta que o normal.
Confira como a nova estação vai se comportar nas cinco regiões do Brasil:
Sul: verão mais quente e seco
O verão será caracterizado pelo calor persistente e acima da média na região Sul, especialmente no Rio Grande do Sul. Sob neutralidade, sem o El Niño observado no verão passado, a chuva será menos frequente e a radiação solar, mais elevada. O resultado será o aparecimento de máximas em torno de 40°C, sobretudo no interior gaúcho.
A chuva será mais frequente apenas entre a segunda quinzena de janeiro e a primeira de fevereiro e no mês de março. “Atenção à fronteira com o Uruguai: o acumulado projetado para a estação será mais baixo que o normal favorecendo o aparecimento de estiagens”, alerta Celso Oliveira.
Em Santa Catarina e no Paraná, apesar da mesmas alternância entre períodos secos e chuvosos, os acumulados de chuva serão mais elevados. Com isso, os períodos de tempo seco serão mais suportáveis que no Rio Grande do Sul, favorecendo a safra de grãos dos dois estados.
O calor vai chamar a atenção no Sul. A temperatura pode ficar até 3°C acima do normal no oeste gaúcho. No Paraná e no leste de Santa Catarina, o calor será mais intenso em março, com aumento de 1°C na média de temperatura no leste e norte do estado. Nas regiões de Foz do Iguaçu (PR) e Chapecó (SC), o calor será mais persistente, ficando 1°C acima da média tanto em fevereiro como em março.
Sudeste: verão mais chuvoso e menos quente
O verão será caracterizado por uma estação mais chuvosa e menos quente que a última no Sudeste. Ainda assim, os períodos chuvosos acontecerão de forma alternada. No estado de São Paulo, por exemplo, haverá períodos mais secos em meados de janeiro, entre o fim de fevereiro e início de março e no fim de março.
Entretanto, diferentemente do verão passado, os períodos secos não serão tão longos, nem tão quentes quanto os registrados em 2019, especialmente em janeiro. “Olhando para os períodos mais úmidos podemos garantir que eles vão acontecer no início de fevereiro e em meados de março”, diz Oliveira.
No Rio de Janeiro e no centro, sul e oeste de Minas Gerais, haverá períodos menos chuvosos na segunda quinzena de janeiro e na virada de fevereiro para março. Por outro lado, os maiores acumulados acontecerão no início de fevereiro e a partir de meados de março.
O Espírito Santo e o norte de Minas Gerais têm um padrão climático semelhante ao leste do Nordeste. Ou seja, os períodos secos costumam ser mais longos. Tanto que há previsão de chuva forte apenas no início de janeiro, meados de fevereiro e fim de março.
Um dos grandes destaques para o verão de 2020 no Sudeste é a temperatura. A exemplo do que já foi observado nesta reta final de primavera, a máxima ficará entre a média e abaixo da média em São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo em janeiro e fevereiro. Em março, as temperaturas estarão mais elevadas em função do maior espaçamento da precipitação, mas as noites e madrugadas não serão das mais quentes.
No Espírito Santo, apesar dos longos períodos de tempo seco, não há previsão de temperaturas muito elevadas. A tendência é de valores próximos da média histórica nos três meses.
Centro-Oeste: verão mais chuvoso e menos quente
A estação na região será caracterizada por ser mais chuvosa e menos quente que a última, com precipitações em períodos alternados. Em Mato Grosso do Sul, por exemplo, aparecem períodos mais secos em meados de janeiro, início de fevereiro e na primeira e na última semana de março. Entretanto, os períodos secos não serão tão longos, nem tão quentes quanto no ano passado. Os períodos mais úmidos se concentram na segunda quinzena de janeiro e nos últimos 20 dias de fevereiro.
Em Goiás e Distrito Federal, os períodos menos chuvosos estão na segunda quinzena de janeiro e na primeira e última semanas de março. Por outro lado, os maiores acumulados vão acontecer ao longo do mês de fevereiro, inclusive com poucos períodos favoráveis para trabalho de campo na agricultura. “A chuva pode atrapalhar os trabalhos de campo, mas não chega a inviabilizar por completo”, diz o meteorologista da Somar.
Em Mato Grosso, a chuva será mais frequente. No sul do estado, os períodos de tempo seco não chegarão a dez dias consecutivos para permitir a realização da colheita da safra de soja 2019/2020. No norte de Mato Grosso, somente a primeira quinzena de março será menos chuvosa. Assim como em Goiás e Distrito Federal, as atividades de campo serão prejudicadas pela chuva frequente em fevereiro.
Diferentemente do ano passado, o verão 2020 não será dos mais quentes. Em Mato Grosso, Goiás e Distrito Federal, os meses de janeiro e março serão levemente mais quentes, enquanto que fevereiro terá menos calor por conta do excesso de chuva. Em Mato Grosso do Sul, a temperatura ficará um pouco mais elevada que o normal em março. Janeiro e fevereiro ficarão com temperaturas próximas da média.
Nordeste: verão será mais chuvoso que a primavera
Apesar de uma primavera bem mais seca que o normal, o verão promete ser mais chuvoso no Nordeste. Sem El Niño e com a expectativa de que o oceano Pacífico leste esteja um pouco mais frio que o normal, a chuva será mais intensa e frequente, especialmente a partir de fevereiro.
Na região de grãos do oeste da Bahia e sul do do Piauí e Maranhão, as precipitações mais intensas vão acontecer sobretudo na segunda semana de janeiro, durante boa parte de fevereiro e no fim de março.
O mesmo vale para o sertão nordestino, embora os acumulados de chuva sejam mais modestos.
A costa norte do Nordeste é dependente da migração de um sistema chamado de Zona de Convergência Intertropical. A precipitação será frequente nos três meses da estação e os poucos períodos secos vão se concentrar no início de janeiro e em meados de fevereiro.
No leste do Nordeste, entre Rio Grande do Norte e Sergipe, a chuva só vai ficar intensa a partir de fevereiro, prosseguindo ao longo de março.
Já na costa da Bahia, serão poucos os episódios de chuva forte durante a nova estação. Algumas frentes frias vão trazer pancadas de chuva em meados de janeiro e fevereiro e a partir do fim de março. No sul baiano, há previsão de chuva forte no início de janeiro, meados de fevereiro e fim de março.
Com uma estação mais chuvosa, a tendência é de que o calor não seja muito maior do que o normal. A temperatura fica acima da média somente no leste da região em janeiro. Nas áreas mais ao sul, a temperatura permanecerá próxima da média durante toda a estação.
No norte do Nordeste e na área produtora de grãos, esperam-se temperaturas entre a média e um pouco abaixo da média.
Norte: verão com chuva forte no Tocantins, Pará e Amapá
Durante todo o verão, chove forte na região Norte. A diferença é que, com o Pacífico mais aquecido, a chuva é mais intensa sobre o oeste e sul da região, nos estados do Acre, Amazonas e Rondônia. Já sob águas mais frias, a chuva forte desloca-se para leste e alcança Tocantins, Pará e Amapá. Em 2020, prevalecerá a segunda hipótese.
Sem o El Niño registrado no verão passado, a tendência é de que a Zona de Convergência Intertropical, um cinturão de nuvens carregadas que nesta época do ano migra para o Hemisfério Sul, fique mais intensa e traga precipitações fortes para a costa e áreas próximas, especialmente a partir de fevereiro.
No Pará e no Amapá, a chuva será frequente e cada vez mais intensa. São poucos os períodos menos chuvosos. O destaque é a segunda semana de janeiro e meados de fevereiro e março. Já no Tocantins, as alternâncias serão maiores; o período menos chuvoso será registrado na primeira quinzena de março.
No oeste do Pará e em boa parte do Amazonas, a precipitação se tornará frequente a partir do fim de fevereiro. Antes disso, espera-se maior alternância com chuva forte entre o fim de janeiro e início de fevereiro e tempo seco na primeira quinzena de janeiro e segunda metade de fevereiro.
No Acre e em Rondônia, o ápice da chuva acontecerá entre o fim de janeiro e meados de fevereiro. Antes disso, na terceira semana de janeiro, espera-se breve período menos úmido. O mesmo também será observado a partir da última semana de março. Por fim, em Roraima, único estado do Norte quer fica seco no verão, a tendência realmente é de pouca chuva durante toda a estação.
O calor é comum o ano inteiro na região, o que não é nenhuma grande novidade. “As estações no Norte do Brasil são mais marcadas pelo regime de chuvas do que pela temperatura”, diz Celso Oliveira.
A temperatura ficará um pouco mais elevada que o normal em Rondônia e Acre em fevereiro e março. Em Roraima, oeste do Pará e no Amazonas, o calor ficará acima da média durante toda a estação, com temperaturas mais de 2°C acima da média, especialmente em Roraima. No leste do Pará, no Amapá e no Tocantins, a chuva mais intensa e frequente fará com que o calor fique um pouco abaixo da média.